Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República e mais novo membro da Academia Brasileira de Letras, fala sobre a intelectualidade nos dias de hoje e sobre as manifestações pelo país
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"Tem que ser nacionalista, mas não à moda antiga"
Fernando Henrique Cardoso,
ex-presidente da República e mais novo membro da Academia Brasileira de
Letras, fala sobre a intelectualidade nos dias de hoje e sobre as
manifestações pelo país
Jornalismo
28/06/13 18:31 - Atualizado em 02/07/13 02:50
O sociólogo e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso
esteve no centro do Roda Viva no dia 1º de julho. Na entrevista, ele
falou sobre ser eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL).
De um total de 39 votos, ele recebeu 34. Sociólogo, professor
universitário e ex-presidente da República, o agora imortal ocupará a
cadeira de número 36, que pertencia ao jornalista João de Scantimburgo
(falecido em março deste ano).
Além do assento na ABL, FHC também falou sobre seu livro lançado
recentemente, Pensadores Que Inventaram o Brasil. Na obra, ele aborda
intelectuais que elaboraram grandes teorias sobre o país. “Esse livro me
permitiu, mais dinamicamente, entender as coisas”.
De acordo o sociólogo, atualmente é muito difícil se tornar um
intelectual, pois estamos diante de um mundo cada vez mais globalizado:
“Hoje, o que acontece é que a especialização é maior. Tem que ser
nacionalista, mas não à moda antiga, e sim à moda contemporânea. É muito
difícil ser intelectual nos tempos atuais. Quantas pessoas temos, hoje,
no Brasil com voz internacional?”, questiona.
FHC ainda falou sobre o preço pago pelo posto de presidente - a solidão
do poder. Se pudesse dizer algo a Dilma, ele diria: “Converse um pouco
mais. Ouça mais. E procure pessoas mais sinceras”.
Um assunto que não poderia faltar na entrevista com o ex-presidente são
os cerca de 700 protestos realizados em todo o país, em dezenas de
cidades. Aos 82 anos, ele os compara às manifestações nos tempos da
Diretas Já e diz que não é uma reação isolada no Brasil, mas que faz
parte da sociedade contemporânea. “O que há de específico nessas
manifestações é que hoje se tem a internet. Não precisa mais de um
comando centralizado. Qualquer pessoa pode organizar”.
Segundo o sociólogo, o que houve foi um encolhimento do espaço público:
“Nada mais é discutido. O espaço eventualmente que resta é a internet”.
Um das diferenças dos movimentos atuais também é a falta de crença em
legendas políticas. Com isso, surge uma brecha para aventureiros na
próxima eleição à presidência. Pesquisas apontam intenções de voto em
Joaquim Barbosa, atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). “As
pessoas querem alguém que seja reto e que aplique a lei, foi o que ele
fez”, justifica.
Para esta edição, o Roda Viva contou com os seguintes entrevistadores:
Ricardo Gandour (diretor de conteúdo do Grupo O Estado de S.Paulo);
Lilia Schwarcz (historiadora e antropóloga, professora titular de
Antropologia da USP); Plínio Fraga (jornalista); Lourdes Sola (cientista
política, ex-presidente da Associação Internacional de Ciência
Política); e Sérgio Dávila (editor-executivo do jornal Folha de S.
Paulo). A atração ainda teve a participação fixa do cartunista Paulo
Caruso.